Ontem passaste na névoa de um casaco branco que vestias, no levantar da minha cabeça que prendera pelo enjoo da minha própria tristeza baixa sobre o colo, nesta minha incerteza de que tudo terá sido verdadeiramente real. Mas o meu coração bateu mais forte. Bateu-me no peito. Bateu-me nas pernas. Bateu-me nas mãos. Bateu-me nos dentes. Todo o meu corpo cansado em vida respondeu a ti.
Passaste na névoa do teu casaco branco naquela tarde que me parecia infindável e desejei que aqueles segundos em que te olhei fossem mais infindáveis que qualquer tarde assim. Os ponteiros do meu relógio retardaram como os da minha vida desde um dia. Atrasados. Como eu para um dia que se sonha até mesmo sem olhos fechados. E nessa noite, como em todas as outras, dormes a meu lado, no meu abraço, na batida que ainda sinto agora em cada uma das minhas veias, que batem no teu passo compassado e no compasso da música que se ensaia para o concerto desta noite. Também isso é vida. Como os blues, como o folk, como o country que esta noite, bem menos que tu quando ontem passaste na névoa de um casaco branco que vestias, me encherão o corpo sob os focos de luz. Também isso é vida.
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