Quando olho para trás não vejo dias; vejo pensamentos e sentimentos. Mal sei sequenciar tudo quanto tenho feito e, por muito que tenha sido, mal me lembro. Não me lembro até de me lembrar. A contagem do dia não é feita pelos dedos, mas pelas batidas cardíacas que se esbatem no fluxo sanguíneo pelo meu corpo num eco vazio [e sonoramente esvaziado]. De sexta - o máximo que alcanço - lembro-me de me ter esquecido de comprar o jornal; dei conta quando me faltou o livro de companhia na cama. De ontem lembro-me de me ter esquecido de comprar alho; reinventei a receita o melhor que me foi possível e a criatividade (re)criou(-se) até no sabor que as minhas papilas aguentaram. De hoje lembro-me de me ter esquecido de abrir a garrafa de vinho ao almoço para o meu pai; apercebi-me quando fui encontrá-lo em busca de um saca-rolhas no meio dos mil e um apetrechos da minha cozinha. Mas amanhã, com toda a certeza, não me lembrarei de esquecer o olhar triste e preocupado dos meus pais; esse fixou-se em mim como se parte da pouca pele que novamente tenho a cobrir os ossos. Perdi peso de novo... e a roupa perde-se em mim de larguezas. Começo a desesperar sem saber o que fazer. O meu corpo não me responde; não mais me respeita. Hoje, quando meio-mundo-menos-uma quer perder peso, eu só (re)penso maneiras de ganhá-lo.
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