Quando Agosto se espraia em Setembro o ar perfuma-se. Só dá conta quem anda nestes corredores cor de céu, quem se encena nesta azáfama, quem vê as malas semifeitas, quem se encontra com o ralador da carne ou o polme do pastel junto aos ovos batidos para a sobremesa. A insignificância do meu leite de soja contracena com as chouriças e o bacalhau, os fritos que me dizem que não coma e que eu aspiro pelas narinas quando já cozinhados na frigideira para que nem isso me falte na vida.
Estes são os dias do pastel e do croquete, os dias em que dá jeito cada lasca de carne que não toco no prato, cada rodela de chouriço que ninguém meteu no caldo verde e o tempo vagaroso que se estende num dia quente. O telefone toca de voz incessante e, no outro lado, numa outra ponta deste país, recordam-se as contas feitas aos pastéis e aos croquetes, aos bolos de laranja, ao arroz de doce a cozer e a fazer jazer por horas determinadas nas travessas abrilhantadas de canela, ao leite-creme a queimar nos aromas do açúcar e do caramelo, aos ovos que as galinhas põem para isto tudo e às idas e vindas dos super mercados mais próximos. E nos entretantos de tudo isto lá estão as mãos e as colheres a enrolar e a moldar os pastéis e os croquetes.
Estes são os dias do pastel e do croquete, os dias em que dá jeito cada lasca de carne que não toco no prato, cada rodela de chouriço que ninguém meteu no caldo verde e o tempo vagaroso que se estende num dia quente. O telefone toca de voz incessante e, no outro lado, numa outra ponta deste país, recordam-se as contas feitas aos pastéis e aos croquetes, aos bolos de laranja, ao arroz de doce a cozer e a fazer jazer por horas determinadas nas travessas abrilhantadas de canela, ao leite-creme a queimar nos aromas do açúcar e do caramelo, aos ovos que as galinhas põem para isto tudo e às idas e vindas dos super mercados mais próximos. E nos entretantos de tudo isto lá estão as mãos e as colheres a enrolar e a moldar os pastéis e os croquetes.
As gentes da aldeia são assim. Mesmo na vila ou na grande cidade. As gentes da aldeia são assim e ainda bem. São as que arranjam num ano corrido as casas e os portões e os muros para os dois dias de festa, os que têm sempre cama para mais um ou mais dois ou mais três ou todos os que apareçam, aqueles em cuja mesa nunca há fome porque a fartura é de alegria e trabalho, aqueles que não têm idade porque se eternizam em lembranças.
A minha tia P é gente da aldeia, é gente da vila, é gente da cidade. A minha tia P é uma Senhora. Daquelas com S bem maiúsculo como as que só em Senhoras como a minha mãe encontro. É a tia P quem nos desperta com as histórias das azeitonas em Outubro e nos acorda com o sabor a feijoada por alturas de Novembro, com os barulhos das panelas das couves e do bacalhau em Dezembro, com a fumarada do leite-creme em Janeiro e em Fevereiro com o doce do arroz. É a tia P quem faz a primavera mais primaveril com as tortas de laranja em Março, as sopas aveludadas em Abril e as lulas em molho de tomate em Maio. O verão de Junho refresca-se nas saladas de atum, nas sopas frescas de feijão verde que presenteiam o início das férias escolares e no empadão de Agosto. Na verdade, as feijoadas não são só Setembro nem o leite-creme é Janeiro. Nada é nada porque é tudo e em qualquer altura. Afinal, a minha tia P é gente da aldeia, é gente da vila, é gente da cidade. Nada tem prazos nem datas fixas. Tudo na tia P é generosidade e os pratos - como tudo nela menos o seu luto - tem todas as cores.
Mas Setembro é sempre o dia do pastel e o dia do croquete, das conversas sobre as festas, a igreja em obras, os santos que saem à luz do dia em imagens carregadas a ombros pelos homens. Às mulheres deve caber apenas o afazer das cozinhas. A todas essas mulheres que, como a minha querida tia P, têm a generosidade de ser gente da aldeia, gente da vila e gente da cidade.
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