"De tempos a tempos, entediadas com as suas normais rotinas de sofrimento, as mulheres decidem que podem ir mais longe e resolvem inventar qualquer coisa para tornar as suas vidinhas ainda mais difíceis do que já normalmente são, juntando-lhes uma pitada de sofrimento extra e mais uma causa de dúvidas e inseguranças relativamente aos seus corpos. Assim, como se não bastassem as dietas constantes, o ginásio, os cremes adelgaçantes e anti-celulite, o botox, o colagénio, a silicone, os peelings e anti-rugas, as roupas desconfortáveis e os sapatos de salto que nos dão cabo das costas e dos pés, as manicures e pedicures e o cabeleireiro, culminando na dolorosa obrigação de termos de depilar sobrancelhas, buço, axilas, pernas e virilhas, certo dia alguma alminha terá acordado e tido a brilhante ideia: só falta um bocadinho assim. E pronto, bastou uma para que, feita rastilho, a moda se espalhasse e começasse tudo a aderir ao novo danoninho: o pipi careca. E para quê? Para agradar aos homens. Acontece que os homens, desde que a gente é gente, nunca se fizeram de esquisitos, até porque não tinham alternativa - pelo menos em versão adulta. Durante milénios o pipi peludo serviu perfeitamente, aliás como se pode deduzir a partir de qualquer estatística sobre a variação da população mundial. Isto, claro, até ao dia em que a primeira lhe apareceu à frente com a novidade. E a partir daí ficou tudo estragado. Porque passaram a dar-se ao luxo de ter preferências de assim ou assado, uns gostam outros não - ainda por cima não há unanimidade! -, e como se não bastasse as pernas, as mamas, a barriga ou o rabo, lá vão as mongas encher-se de preocupações e inseguranças "ai será que ele gosta?" sobre umas das únicas coisas que tinham como sucesso garantido. E se ter abdicado desse poder não foi uma das coisas mais estúpidas da história feminina, mesmo que a favor da estética, então não sei não."
(Algo me diz que a "Lua" hoje está no lado lunar... Não sei, não. Digo eu!)