As onze da manhã trouxeram o ruído dos carros que foram chegando, estacionando e se deixando estar ali na quietude da busca de alguma sombra. De dentro dos carros sairam índios, princesas, piratas, cowboys, aventureiros e moderados, na ansia de primeiro começar a correr pelo meio das ervas e das flores e de toda a Natureza que se agita ao adivinhar a sua presença. As onze da manhã trouxeram os adultos de ar cansado para mais uma reunião familiar em que as mulheres vão pondo e levantando a mesa e os homens vão chamando por elas quando se afastam na direcção da cozinha.
O meio do dia trouxe as entradas e de saída os peixes cheirosos de ervas finas, as batatas acompanhantes, as saladas coloridas e a fome roncando das barrigas que aguardam. Outros minutos mais adiantados trouxeram nas ondas das conversas agitadas a gulodice das sobremesas nos pudins, nas mousses, nas frutas banhadas em sumos naturais e iogurte e a vontade de provar até rebentar cada um deles.
O início da tarde trouxe a moleza e a vontade de nada fazer, as mulheres que se entreajudam e os homens que conversam em torno de uma garrafa de aguardente sob o aroma de café colombiano comprado em Portugal.
As sestas das crianças refrescaram o ambiente nos silêncios comprometedores e, de repente, da abertura das pestanas abriu a época da caça ao esconde-esconde e da apanha dos pães com doce e dos sumos da tia. Aos adultos trouxe a inactividade e aquele refilar popular pelas bolas que saltitando se aproximam ora das suas cabeças ora das janelas da habitação mais além.
Começa a cair a noite, o fogo é aceso e acende a energia de cada um. As crianças correm fugindo da sopa, refilando como se embrenhadas num poder determinado de decisão e feitas com as razões absurdas de quem se alimenta ainda de imaginação. Chegam à mesa os assados do barbecue, o tio que chama a todos ao petisco, os pais, os filhos, os sobrinhos, os afilhados e todo aquele mundo que se fora dispersando pelos lugares ainda vagos da mesa.
Já na noite cantam os grilos, conversam os homens, as crianças dormitam, as brincadeiras descansam e esperam pelo novo dia e as mulheres entreajudam-se arrumando a cozinha e pensando já nos afazeres do novo dia que se avizinha.
Quando a cavalaria se afasta ao colo dos progenitores e o silêncio cai sobre cada grão de terra de todo aquele espaço eu regresso ao passado desse futuro que ali vivo. E sorrio. A terra despida, para mim, só ganha vida na poeira dos duelos ao sol da tarde. E só assim é fértil de futuro.
1 comment:
quem me dera saber escrever assim!!!
:)
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