As casas pintam-se para os arraiais de Agosto pelas mãos dos novos, que refilam mas vão fazendo, que bebem mas já não absorvem. Os mais velhos novos de outrora olham-nos pelo canto do olho no intervalo do carro que passa e, entre a nova equipa vermelha e a falta de dinheiro, soltam palavras que ninguém na verdade consegue perceber. Dois trocam galhardetes em Esperanto, esquecendo a Terra que os esqueceu a eles em reformas apertadas e jornadas de oito horas aos oitenta anos. Os jovens continuam a pintar e aprumam-se quando passam as miúdas casadoiras, mas já não levantam chapéus em tom de respeito. Talvez porque as mãos estão sujas. Talvez porque hoje já ninguém se preocupa com o sol ou com a elegância ou com o respeito. No chilrear dos pássaros passa a banda perfilada, soprando nos sopros e tangendo as peles da percussão, pedindo as esmolas para as fardas que o povo está financeiramente disposto a dar. Na salinha da capela as mulheres reúnem-se. Falam da vida e da morte e das comidas em Agosto para os bailes. Uma pede mais pimenta para puxar à pinga. O vinho a copo e a loura sempre se venderam bem. Outra requer braços para servir que os dela ainda do ano passado se lembram.
Só ainda ninguém falou dos santos e dos anjos que engalanados escutam do seu canto em sossego. Ninguém fala deles ainda. Porque ao chegar a Agosto tudo o mais é passado e só eles importam nos foguetes que rebentam, nas missas que se oram, nas emoções que deslizam pelos rostos e na paz que se sente por dentro.
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