Se isto não é amizade, não sei como se chamará. [Num abraço para alguém no 3º piso dos HUC]

Há pessoas de quem gostamos sem saber porquê. Talvez gostar seja isso mesmo - não precisar de razões para nos racionalizarmos de emoções em relação a um determinado alguém cujo sorriso nos vale todas as preciosidades. Hoje uma amiga minha deu entrada no hospital. Chamo-lhe amiga, mas desconheço o nome do meio, não tenho uma única fotografia dela, não faço a mínima ideia da data de aniversário, nem sei se alguma vez trocámos mais que dúzia e meia de palavras na meia dúzia de vezes que nos sentámos frente a frente algures e nas duas ou três vezes que nos cumprimentámos como gente que realmente se conhece. Hoje ela deu entrada no hospital embebida em risco, sofrimento e medo e eu não consigo desligar-me desses outros espaços por onde se movimentará entre batas brancas e máquinas frias. Hoje ela deu entrada no hospital e eu ontem não consegui virar costas sem a abraçar (com cuidado para não magoar), envolta no carinho que sinto e nutro por ela e deixando-a com a minha companhia por quem ninguém mais pensei dispensar. Hoje ela deu entrada no hospital e eu aguardo o dia em que teimo acreditar que ao encontrá-la me sorrirá de novo como ontem, com os olhos frutados das palavras que lhe sussurrei ao ouvido mas já com o alívio de um medo embarcado na passagem de um comboio de dias anterior. Como eu quero que esse dia chegue...