ele que trate das suas pessoas, que as leve ao médico,
lhes dê de comer, e as meta na cama, às três,
sobretudo, e já agora às outras, se as houver,
que eu não me meto nisso. Pessoa,
basta-me a que tenho, e que já combinou
tudo com o Pessoa – mas o próprio,
de gabardine para não apanhar com a chuva
oblíqua no fato preto, e opiário no bolso
por causa do pagode marítimo.
Posso combinar outra coisa com o senhor Camões:
apanhe o avião para a Índia no terminal dos charters,
que são mais baratos; e veja se não fuma às escondidas,
que é proibido; e menos ainda ligue o telemóvel,
que interfere com os instrumentos de voo, mesmo
que precise muito de falar com a Natércia, ou com
a Leonor, ou com a Bárbara, ou qualquer outra das mil
e três que lhe infestam sonetos e canções. O
que eu quero dele é que me traga de Hong Kong (por onde
tem de passar a caminho de Macau) um Rolex
de imitação – no free-shop é mais barato.
E contigo, meu caro Pessanha,
quero combinar outra coisa: não me peças nada
para o Wenceslau. Deixa-o estar no Japão, que
está lá muito bem, e o caminho de volta
para a pátria não se recomenda a ninguém. E tu,
ópio à parte, ensina a nossa querida língua a uns
quantos chineses, mesmo que eles troquem os erres
pelos eles. No teu nome, Camilo, é que não
há troca possível. E se fores à gruta do Camões, leva
o piquenique: talvez não queijadas de Sintra
nem pastéis de nata, mas um frango de aviário
e batata frita (esquece o arroz, que é melhor
ao jantar, no chinês do costume).
- Nuno Júdice
E eu posso fazer um acordo contigo. Eu levo as pessoas de Pessoa, o senhor Camões e o meu caro Camilo. Não tragas tu pessoas nem o rolex que não preciso mas, de voo charter ou não, agarra essas asas e voa até cá. Podes trazer a cesta do piquenique sem as queijadas de Sintra e os pastéis de nata e até sem o frango de aviário e a batata frita. A mesa está posta. E tudo está pronto a ser servido.
1 comment:
Gostei muito do texto! Tinhas razão! Jitos Vânia
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