Fui guardando na algibeira os pedaços daquilo que fui. Pedaços rasgados e gastos pelo tempo, pedaços humedecidos e frágeis, pedaços cujas arestas foram diminuindo, impossibilitando qualquer tentativa de junção, qualquer tentativa de compreensão de algo que ficou registado mas que de repente perdeu o sentido. O botão da algibeira caiu certo dia e esses pedaços voaram na minha cabeça que parecia querer explodir. Deixei-me ficar, apática. Quando o vento acalmou, peguei calmamente na linha e na agulha e cosi o botão para deixar guardado o passado assim que o conseguisse fechar de novo. A minha falta de jeito obrigou-me a coser e descoser vezes sem conta, até que consegui fechar finalmente o botão.
O passado que passou, repleto de tudo e de nada, ficou guardado na algibeira, numa rua inacessível. "Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa".
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Fui guardando na algibeira os pedaços daquilo que fui. Pedaços rasgados e gastos pelo tempo, pedaços humedecidos e frágeis, pedaços cujas arestas foram diminuindo, impossibilitando qualquer tentativa de junção, qualquer tentativa de compreensão de algo que ficou registado mas que de repente perdeu o sentido.
O botão da algibeira caiu certo dia e esses pedaços voaram na minha cabeça que parecia querer explodir. Deixei-me ficar, apática. Quando o vento acalmou, peguei calmamente na linha e na agulha e cosi o botão para deixar guardado o passado assim que o conseguisse fechar de novo. A minha falta de jeito obrigou-me a coser e descoser vezes sem conta, até que consegui fechar finalmente o botão.
O passado que passou, repleto de tudo e de nada, ficou guardado na algibeira, numa rua inacessível. "Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa".
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