Violência de colegas obriga criança com cancro a deixar a escola 19.05.2007 - 09h59 Ana Cristina Pereira
O Miguel ainda não foi às aulas este período. Há um somatório de episódios a atormentar a sua memória. Chamam-lhe "surdo", por ter perdido parte da audição com os tratamentos. Chamam-lhe "porco", por não usar o balneário. Um dia, um dos rapazes apanhou-o no corredor e "obrigou" outro a puxar-lhe as calças, enquanto lhe chamava "aquilo que é o contrário de gostar de mulheres". Já lhe aconteceu encontrar a mochila "cheia de ranho"...
É um miúdo de 12 anos, magro, delicado, com uma voz infantil. A pedopsiquiatra remeteu uma declaração para a escola em Março. A lembrar que Miguel sofreu um cancro, vários internamentos, quimio e radioterapia. A lembrar que, por isso, apresenta sequelas diversas - debilidade física, fragilidade emocional, dificuldade de reacção a pressões psicológicas. A lembrar que é vítima de bullying (intimidação continuada). A dar conta de um "processo depressivo". A recomendar mudança de turma e urgente "intervenção clínica do Gabinete de Psicologia da escola, no sentido de ajustar os comportamentos dos jovens implicados". Mas a mudança, formalizada pelos pais desde o início do ano lectivo, não chega. De que lhe serve mudar de turma se o recreio é o mesmo? "Se eles me tentassem fazer alguma coisa nos intervalos, tinha a outra turma para me proteger", responde, num tom de voz que é quase um murmúrio o aluno do 7.º ano da Escola Básica 2,3 n.º 2 de Rio Tinto. Presume que a outra turma poderia ser preparada para o acolher no seu seio como um igual.
É um miúdo de 12 anos, magro, delicado, com uma voz infantil. A pedopsiquiatra remeteu uma declaração para a escola em Março. A lembrar que Miguel sofreu um cancro, vários internamentos, quimio e radioterapia. A lembrar que, por isso, apresenta sequelas diversas - debilidade física, fragilidade emocional, dificuldade de reacção a pressões psicológicas. A lembrar que é vítima de bullying (intimidação continuada). A dar conta de um "processo depressivo". A recomendar mudança de turma e urgente "intervenção clínica do Gabinete de Psicologia da escola, no sentido de ajustar os comportamentos dos jovens implicados". Mas a mudança, formalizada pelos pais desde o início do ano lectivo, não chega. De que lhe serve mudar de turma se o recreio é o mesmo? "Se eles me tentassem fazer alguma coisa nos intervalos, tinha a outra turma para me proteger", responde, num tom de voz que é quase um murmúrio o aluno do 7.º ano da Escola Básica 2,3 n.º 2 de Rio Tinto. Presume que a outra turma poderia ser preparada para o acolher no seu seio como um igual.
A minha questão é: desde quando não é um igual - uma criança, um aluno, um colega, um cidadão deste país?
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